segunda-feira, 3 de maio de 2010

“Festival Artmar” e a política cultural do Município de Cª Lobos

É com muita tristeza que li a notícia de hoje do DN-Madeira, intitulada: «Câmara de Lobos perde 'Festival Artmar'», que desde 2005 tem vindo a ser o principal cartaz cultural do Concelho.

Lamentavelmente isto é consequência do desnorte das políticas quer financeiras, quer culturais do executivo PSD na Câmara Municipal de Câmara de Lobos e não da tragédia e eventuais apoios as vítimas dos temporais, que agora tem servido de argumento para justificar os erros de governação.

De facto já é sobejamente conhecida as tremendas dificuldades financeiras em que o Município vive, frutos de um modelo económico e social esgotado, que assentou durante muitos anos nas obras públicas, muitas delas sem sentido e que só serviram para incrementar o passivo da Autarquia, não conseguindo também trazer mais investimento privado que de alguma forma viesse atenuar este momento de crise. Mas não só o executivo liderado por Arlindo Gomes tem culpas no cartório. Também o Governo Regional e da República são responsáveis, visto que também não honraram os seus compromissos. Os primeiros através dos vários contratos programa que não foram cumpridos e os segundos por não transferirem as verbas que por lei deveriam transferir ao Município.

Agora sem estratégia, este executivo corta em tudo, sem critério e sem norte. De facto, não apoiar este festival é sem dúvida escandaloso, tendo em conta que se tem apoiado outras actividades culturais de menor importância, sendo que para esta pelos vistos não se encontra uma solução que a viabilize, o que é uma pena.

Nós, já antes da campanha eleitoral temos vindo a defender a necessidade de mudanças de políticas na área cultural, no sentido de serem criados critérios justos de apoio a cultura. Defendemos a elaboração de uma Carta da Cultura, onde com clareza e rigor se definam os critérios de apoios as entidades e eventos a patrocinar pela Câmara. Defendemos também que se deve valorizar e promover os artistas concelhios, que se evidenciem nas artes plásticas, nas letras, na música, no teatro, na dança e no cinema. Só assim é que faz sentido apoiar a cultura, na expectativa desta servir para cultivar e fortalecer os valores e a riqueza cultural junto da população. Para nós a cultura não é apoiar a construção de bibliotecas gigantescas (não dimensionada para a realidade concelhia) para marcar mandatos, se estas depois não se enchem de pessoas e de agentes culturais do Concelho que promovam o seu trabalho. É como o Centro Cívico do Estreito, que também tem uma actividade fraca ou se quiserem muito modesta, pelo simples facto de faltar o essencial, que é ter um público sensibilizado para as artes e a cultura. A cultura tem de deixar de ser só para alguns e ser para todos e para todos não é trazer artistas ditos “pimbas”. Cultura também é trazer e educar as pessoas para verem e conhecerem obras de arte e entender outros movimentos culturais na dança, na música, na arquitectura, enfim expandindo o universo dos cidadãos. Falta a vertente educativa e mobilizadora, que é essencial para entusiasmar os cidadãos que “donos” dos grandes espaços não sentem necessidade pela cultura e aqui a Carta da Cultura tem um papel fundamental, porque pode obrigar aos agentes culturais a terem também uma responsabilidade nesta área. Sei que isto não é fácil e que leva anos, mas parece-me que não se tem caminhado no sentido certo, julgo na verdade que muito está por fazer.

Voltando a questão do ”Festival Artmar”, acho que ainda é possível encontrar-se uma solução para dar a volta por cima e realizar este festival no presente ano, se calhar sem grandes figuras de cartaz nacionais ou internacionais, mas digno de um Município que quer também crescer na sua vertente cultural. Pode não ser o festival que estamos habituados a ver, mas acho que podemos todos contribuir para que se encontre nesta ideia de valorização da prata da casa, câmara-lobenses que queiram aproveitar esta oportunidade e que queiram dar-se a conhecer e dar a conhecer o seu trabalho. Podemos ter um festival mais modesto, adequado as dificuldades que o Município atravessa, mas digno de um Município também este jovem, com gente que também nesta área pode e quer também brilhar. Acho sinceramente que é uma oportunidade única de mudar o actual estado das coisas nesta área da cultura.

Querer é poder!...

Imagem: Google

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