domingo, 21 de dezembro de 2008

"Política e Arquitectura"

É comum associar a arquitectura a um acto de posicionamento político. Trata-se de uma associação tão conceptualmente intrínseca às duas actividades como o é, na cultura ocidental, a política em relação a vida na Polis. Unanimente indissociáveis, a arquitectura e a acção política foram conhecendo estados de relação de intensidade variável. Hoje em Portugal, talvez pela primeira vez desde a Revolução de Abril, esta associação é discutida de um modo de transcende em muito a escolha ou eleição partidária: aspira a um outro grau de compromisso os temas da vida pública e a sua extensão à Cidade e ao Território.

Não deixa de ser um paradoxo que, quando a arquitectura, a arte e outras disciplinas do pensamento contemporâneo se orientam para um desejo político de operatividade real, os cidadãos se coibam de expressar através do voto o seu desejo para a eleição dos elementos de governação. A intensidade do pensamento político, associado a uma consciência da necessidade de transformação, coincide com a demonstração de um desinteresse dos cidadãos nas eleições livres dos sistemas democráticos. A abstenção aumenta exponencialmente, mas em simultâneo os temas da vida quotidiana e da cidadania ganham progressivamente expressão global.


Alguns destes temas em torno da cidadania são directamente monitorizados pela arquitectura. Mesmo os que encontram grande resistência face a uma sedimentação das opiniões e das posturas resultantes da manipulação da informação. Sabemos pela experiência do passado recente que muitos destes temas, tratados pela arquitectura, se transformarão em evidencias num futuro próximo...


José Adrião + Ricardo Carvalho
Editorial da Revista "Jornal de Arquitectura" (JA) 232 - Política
Julho - Setembro de 2008

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