quarta-feira, 15 de julho de 2009

Excelente entrevista de José Manuel Rodrigues ao Diário Cidade

Hoje é publicada uma entrevista muito interessante feita pelo Diário Cidade ao Presidente do CDS-Madeira, que pela sua pertinência e clareza julgo ser uma excelente entrevista que importa aqui também divulgar.

"É tempo de mudar de ciclo político"


Ser a maior força da oposição. Uma oposição claramente construtiva e defensora, guerrilhas à parte, dos interesses da Região Autónoma da Madeira. Estes são os objectivos principais do CDS/PP face às eleições que aí vêm.

Ao Diário Cidade, José Manuel Rodrigues explica que a governação do PSD, embora com algumas virtudes, tem prejudicado os madeirenses e portossantenses. E, como tal, não hesita em afirmar que a saída do Presidente do Governo Regional em 2011 será um virar de página para o desenvolvimento da Madeira.

Diário Cidade - Quando se aproximam dois novos processos eleitorais (legislativas e autárquicas), e após um bom resultado na eleições para o Parlamento Europeu, com que propostas o CDS/ PP se apresenta aos madeirenses?

José Manuel Rodrigues - Perante o resultado das eleições europeias, em que o CDS/PP afirmou-se como a terceira força política regional, deixando larga distância da extrema esquerda, Bloco de Esquerda e Partido Comunista, e aproximando-se do Partido Socialista, é nosso dever ser alternativa ao Partido Social Democrata. Não que isso já não tenha sido feito no passado, só que agora há mais força eleitoral para que isso aconteça. Nas eleições legislativas, de 27 de Setembro, os madeirenses têm que escolher entre três caminhos: votar no Partido Socialista, cujos deputados na República não têm estado à altura dos compromissos que assumiram com os seus eleitores; votar nos deputados do PSD, que têm servido apenas para aumentar a guerrilha entre o Governo Regional e o Governo da República; ou votar no CDS, uma terceira via para uma voz na Assembleia da República que coloque em primeiro lugar os interesses da Região.

DC - O descrédito em que caíram alguns partidos da oposição contribuiu de alguma forma para
a ‘ascensão’ dos populares?

JMR - Não é, objectivamente, verdade que quando o Partido Socialista está mal eleitoralmente os partidos da oposição estejam melhores, até porque já houve no passado bons resultados do PS e do CDS em simultâneo. O que é importante é nos afirmamos pela positiva e isso tem acontecido. Somos uma oposição construtiva e firme, uma oposição que sabe reconhecer não apenas as coisas negativas, mas também as positivas. Reafirmo que a intervenção dos populares em várias questões, a exemplo do aumento do preço das creches e do vinho dos produtores directos, já fez o Governo Regional retroceder nas suas decisões. E é esta oposição que deverá ser, permitam-me a imodéstia, premiada nas eleições.

DC - As últimas eleições europeias ficaram marcadas não só pela subida do CDS, mas também pelo acréscimo de votos nas forças de esquerda... Como analisa este facto?

JMR - Vejo com preocupação que forças mais extremistas e, sobretudo, com ideias fracturantes em termos da sociedade tenham 20 por cento do eleitorado em Portugal. No entanto, julgo que nas próximas eleições terão menos votos, mas não deixa de ser preocupante. No caso da Madeira houve um ligeiro aumento do Bloco de Esquerda, com o Partido Comunista a ter mesmo um resultado inferior às eleições regionais, por isso não vejo que haja uma grande preocupação em relação aos resultados destes dois partidos.

DC - Atendendo às expectativas de um crescimento eleitoral sustentado, para quando o assumir-
se como a maior força da oposição na Região?

JMR - Tudo vai depender dos eleitores. Por ser preciso criar uma alternativa aos sociais democratas, na mudança dos destinos da Madeira, é importante que os madeirenses tenham várias escolhas e a nossa oposição é claramente de alternativa. O CDS/PP têm se aberto para crescer como partido, para se transformar e contar com o apoio de independentes, pessoas que não pensando totalmente como nós tragam contributos e isso tem dado resultados. “O Governo Regional não soube mudar de ciclo de desenvolvimento e isso é absolutamente necessário para que a Madeira possa ter um novo período de prosperidade, assente sobretudo nos sectores privados e na criação de emprego.”

DC – Ao longos destes anos de governação PSD, intimamente ligados à pessoa do Dr. Alberto João Jardim, o que foi feito de errado?

JMR - Esta governação do PSD teve virtudes e teve defeitos. A maior virtude foi corresponder, desde logo, às necessidades básicas da população em termos de educação, de saúde e de estradas, mas descuidou os sectores produtivos e económicos, aqueles que produzem riqueza. A crise que estamos a viver hoje acaba por ser uma crise dentro de outra crise, isto é, a Madeira sofre a crise financeira mundial com várias repercussões para o turismo, as receitas da Região e as exportações, mas sofre também uma crise com origem regional, que tem a ver com o modelo de desenvolvimento do PSD que privilegiou apenas o investimento público. Descurou-se aquilo que é importante, nomeadamente a promoção do destino turístico no exterior, onde se gasta pouco dinheiro para aquilo que o turismo representa para a economia, a agricultura, as pescas, o comércio... E o resultado é uma crise económica e regional com mais de 12 mil desempregados, uma distribuição do rendimento que é a mais desigual do País, problemas de pobreza e de toxicodependência, etc. O Governo Regional não soube mudar de ciclo de desenvolvimento e isso é absolutamente necessário para que a Madeira possa ter um novo período de prosperidade, assente sobretudo nos sectores privados e na criação de emprego.

DC - A falta de autonomia e as restrições da República são constantemente apontadas como responsáveis pela crise na Região. É verdade ou o agudizar da crise junto das famílias e empresas madeirenses tem outros culpados?

JMR - É uma mistificação o PSD e o Governo Regional dizerem que não podem resolver o problema do desemprego por causa da Constituição. Qual é o artigo da Constituição que, a ser alterado, vai resolver o problema do desemprego? O PSD está a tentar tapar as suas incapacidades governativas, o seu comodismo, com a revisão da Constituição.

DC - Qual é a posição do CDS/PP nesta matéria?

JMR - Defendemos claramente um aumento dos poderes autonómicos, sobretudo na área fiscal, onde é necessário que a Madeira tenha mais poderes. Mas não é que o Governo Regional não possa reduzir as taxas do IRS e do IRC, simplesmente não o tem querido fazer. Para já não pode mexer, por exemplo, nos escalões ou nas deduções à colecta do IRC, no pagamento especial por conta, e aí sim, em termos de autonomia fiscal, é possível avançar numa próxima revisão constitucional.

DC - Ainda assim, passados mais de 30 anos de Governo social-democrata, o povo
continua a votar PSD. Como se explica esta confiança?

JMR - Por duas razões, uma mais geral e outra particular. A primeira tem a ver com o facto de nunca ter sido criada uma verdadeira alternativa política na Madeira. Uma falha da clara responsabilidade do Partido Socialista. E a segunda trata-se de uma razão mais circunstancial que tem a ver com o momento político actual, no qual face ao descontentamento com o Governo da República do PS, os madeirenses em particular, usam o voto no PSD contra o partido no governo.

DC - Acredita que com a saída do Presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, em 2011, dar-se-à lugar a uma nova etapa na política regional?


JMR - O Dr. Jardim desde 1984 que anuncia a sua saída, já lá vão 25 anos. Não sei se devo acreditar na sua palavra, mas partindo do princípio que fala a verdade, vai ser benéfico para a Madeira. Ele concluiu um ciclo político e económico e a Madeira precisa de sangue novo na sua classe política e governação. Não há ninguém insubstituível na política e penso que a saída do Dr. Jardim vai marcar o virar de uma página na política da Madeira e na forma como esta se relaciona quer com o Governo da República, quer com a União Europeia.

DC - Uma das apostas do CDS/PP, sua a nível pessoal, é a eleição de um deputado da Madeira à Assembleia da República. Quais os pressupostos desta candidatura?

JMR - Candidatei-me à Assembleia da República para marcar a diferença. Os madeirenses e portossantenses têm sido prejudicados pela constante guerrilha entre o Governo Regional do PSD e o Governo da República do PS. Por isso é tempo de resolver as várias matérias pendentes.


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