domingo, 4 de outubro de 2009

Entrevista do DN-M ao Paulo Portas

O resultado do último domingo, com a eleição de um deputado pela Madeira, foi uma surpresa?

Para o José Manuel Rodrigues e para mim próprio, não foi. Tínhamos consciência, primeiro, de que havia um crescimento do partido, ao nível nacional, que não era reconhecido nas sondagens. Também sabíamos que as pessoas eram muito sensíveis ao trabalho que tínhamos feito, a favor das PME, de uma redução da carga fiscal, de uma fiscalização a sério do Rendimento Mínimo, de dar prioridade às pensões dos mais velhos, do julgamento rápido dos delinquentes, da autoridade dos professores...

E isso foi suficiente para eleger mais deputados?


Tínhamos consciência de que tudo isso eram valores muito partilhados pelas pessoas e que estávamos a crescer. Acresce, aqui na Madeira, um facto que eu não quero deixar de registar: o José Manuel Rodrigues, não só é uma voz forte e carismática, como apareceu junto do eleitorado como uma voz independente e livre, capaz de aumentar o pluralismo na Madeira, capaz de sair do habitual, ou seja, das polémicas entre o PS e o PSD. É uma voz capaz de defender, com isenção, que o Governo da República tem de cumprir os compromissos com a Região e que os conflitos entre os dois governos não beneficiam a Região.

Foram essas as razões da eleição?


Acho que foi por ter aparecido com esse sentido construtivo, com esse sentido positivo e de serviço às pessoas, que conseguiu esse feito histórico de, 30 anos depois do dr. Cabral Fernandes , conseguirmos ter um deputado na Assembleia da República que será um deputado que vai dar que falar.

Poderá dar que falar se o CDS avançar com as propostas regionais, sobretudo em relação à lei das finanças e à revisão constitucional?


A nossa atitude no parlamento vai ser fiel aos nossos compromissos. Nós somos um partido preocupado com a defesa da autonomia, não acreditamos no centralismo como modo de governar qualquer país e acreditamos na defesa de mais democracia no quadro da autonomia. Apresentaremos, certamente, propostas no quadro da revisão da Constituição e também temos compromissos claros no quadro da revisão da lei das finanças regionais. Nesse caso, como já disse, acho que o Governo da República tem de cumprir os seus compromissos com as Regiões Autónomas.

Até onde acha que poderá ir o alargamento dos poderes das regiões?


Vamos ver, neste momento, ainda não abriu a legislatura, muito menos a comissão de revisão constitucional. Vamos reunir o grupo parlamentar e ainda não abordámos as propostas legislativas que vamos fazer, por isso será preciso esperar umas semanas. O que posso garantir é que as propostas serão autonomistas e de mais democracia dentro dessa autonomia.

No entanto, em relação à lei das finanças regionais, há promessas do CDS, feitas durante a campanha eleitoral. É o que sempre disse: o Governo da República tem de cumprir os compromisso com a Região. Há um conjunto de projectos de interesse comum que podem ser desenvolvidos e podem avançar, caso as instituições assim o decidam.

Entre eles estará o novo hospital da Madeira?


Exactamente, sem dúvida nenhuma que estará no nosso caderno de encargos.

Logo no início, fez referência ao eterno conflito entre a Região e a República, entre Alberto João Jardim e José Sócrates. Essa situação não irá manter-se?


A grande vantagem do reforço do CDS e da presença de José Manuel Rodrigues na Assembleia da República é que as pessoas, que até aqui só podiam abrigar-se de um dos dois lados do conflito, têm uma alternativa. As pessoas sabiam que o PSD-M estava em guerra com o Governo do República e que o PS-M estava a proteger esse Governo. Desta vez, há uma voz livre e independente.

O CDS será um terceira elemento, ou ficará à margem desse conflito?


A posição do CDS é uma grande vantagem e correspondeu, certamente, à vontade da população. Evidentemente que é normal o conflito em política e durante as campanhas eleitorais, o que sucede é que as instituições são instituições e são obrigadas a cooperar, para bem da população. As instituições não são partidos.

Cinco prioridades logo a abrir

O presidente do CDS-PP esteve ontem na Madeira para garantir que, mal o próximo parlamento nacional abra portas, serão cinco as prioridades dos 21 deputados eleitos domingo passado. Primeiro, "redução da carga fiscal sobre as pequenas e médias empresas, a fim de salvar empregos e promover a contratação de novos empregados. Segundo, defender o julgamento rápido, em 48 horas, dos delinquentes apanhados em flagrante delito, de maneira a acabar com o sentimento de impunidade. Em terceiro lugar, "uma fiscalização generalizada do rendimento mínimo, que distinga o que é justo do que é abuso, separar o 'trigo do joio', e em contrapartida encontrar um mecanismo que nunca mais permita que as pensões de 240 ou 200 euros, em vez de subirem, ou fiquem na mesma ou baixam, com esta fórmula que os socialistas arranjaram. Em quarto, que a Assembleia da República tenha uma Comissão de Agricultura e Pescas, sinal da importância dos sectores produtivos. E, em quinto, um novo modelo de avaliação para os professores que seja consensual, justo tal como já está em vigor no ensino particular e cooperativo".

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