Um obelisco inclinado com 100 metros de altura e um edifício em forma de meia-lua para memorial aos ex-presidentes da república do Brasil. A ideia de Oscar Niemeyer era homenagear a cidade que ajudou a construir com o urbanista Lúcio Costa, mas Brasília não gostou. A polémica alimentou jornais e blogues, deu azo a inquéritos e esclarecimentos, e só terminou com a publicação de uma carta do arquitecto a suspender "provisoriamente" o monumento. Entretanto, Niemeyer associou-se a uma conhecida figura do Carnaval carioca para transformar o projecto num carro alegórico que deverá desfilar no Rio, em 2010.
Segundo a imprensa brasileira, o projecto da Praça da Soberania - apresentado no passado mês de Janeiro por Oscar Niemeyer, de 101 anos - foi criado para responder a quatro desafios: arranjar estacionamento no centro da cidade (a obra contemplava parque subterrâneo para três mil automóveis), concretizar o desejo do presidente Lula da Silva de construir o Memorial dos Presidentes, atender ao pedido do governador do Distrito Federal para edificar um monumento ao cinquentenário de Brasília e resolver o problema da falta de zonas de lazer na famosa Esplanada dos Ministérios.
Niemeyer, autor dos edifícios mais icónicos da capital brasileira, elegeu como local de implantação da praça o eixo entre o Teatro Nacional e o Museu da República. E, de início, o arquitecto contou logo com o apoio do governador José Roberto Arruda. Mas as críticas não se fizeram esperar, nomeadamente por parte de urbanistas e arquitectos.
Como aquela zona de Brasília é classificada, está proibida a construção. Além do mais, argumentaram os críticos, a volumetria do memorial (onde seria instalada uma exposição permanente) não só bloqueava a visão dos edifícios circundantes mas também violaria as regras de urbanismo relativas ao espaço entre prédios.
Sylvia Fischer, da Universidade de Brasília, foi uma das vozes a defender que Niemeyer estava a prejudicar o seu próprio trabalho. Num inquérito promovido pelo jornal Correio Braziliense, 70% dos 4000 habitantes da cidade que responderam disseram não ao projecto. O IPHAN (instituto do património) também foi desfavorável. E o governador Arruda acabou por vir a público dizer que não havia tempo nem dinheiro.
Há dias, o arquitecto e o "carnavalesco" Joãosinho Trinta encontraram-se para debater uma parceria ousada: Niemeyer transformava o obelisco num carro alegórico e Joãosinho negociava com a escola Beija- -Flor um enredo de homenagem aos 50 anos de Brasília. A ideia, avança o Correio Braziliense, é convidar Lula e os ex-presidentes brasileiros ainda vivos para desfilar no Sambódromo (outra obra de Niemeyer), no Carnaval do Rio de Janeiro em 2010.
Sem comentários:
Enviar um comentário