quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Concordo Plenamente com o Arq. Vilhena: "Planos Obtusos"

A revista Monocle dedicou a edição do Verão passado a analisar e propor formas de construir melhores cidades. É certo que a presente crise mundial nos vai revelar novos paradigmas e, eventualmente, apresentar novos ideais. Mas tão certo como isso é que o progresso da humanidade continuará a fazer-se nas cidades, lugar concentrado de trocas, o carburante que faz mover a humanidade, mesmo na era da Internet. Pegando nos bons exemplos, a referida edição lista 20 cidades que reúnem condições para serem urbes melhores. Mesmo atendendo a que as cidades são sistemas de grande complexidade e que não há receitas, são identificadas uma série de condições que contribuem para o seu sucesso. Vários aspectos são tidos em conta: a segurança, o nível educacional, os cuidados de saúde, o clima, a dinâmica cultural, a qualidade e inovação arquitectónica, a oferta de parques e espaços verdes, o sistema ecológico, os preços da habitação, a vitalidade do comércio, a eficiência dos transportes públicos e a tolerância cultural, entre outros predicados. No fundo e simplificando, como em qualquer outra avaliação, "tem que ter bom aspecto, ser inteligente, ter boas proporções, ser alegre e possuir um bom humor".

Entre os vários aspectos enunciados há um ponto incontornável para o sucesso das cidades e que dá pelo nome de "planeamento urbanístico". Este factor é fundamental para que se possa orientar a renovação e o crescimento de um lugar. Ainda que na maior parte das cidades listadas o planeamento faça parte da cultura e esteja de tal forma entranhado, o desenho urbano, a par do cuidado com o património histórico, é identificado como uma das ferramentas necessárias ao êxito de uma cidade.


Aqui não se chegou ainda a esse entendimento. Os planos de ordenamento do território passaram de um mal necessário do qual dependia o apoio económico da UE, para agora serem apresentados como um obstáculo ao desenvolvimento. Agora, que se percebeu que os instrumentos de planeamento urbanístico são para cumprir e que os PDM, feitos à pressa, sem o propósito de constituírem verdadeiras ferramentas de controlo de qualidade urbana e de equidade, se revelaram inadaptados ou já estão moribundos por não terem sido revistos na devida altura, arranjaram-se novos truques para alterar aquilo que foi publicamente discutido e ratificado. Com efeito, têm sido apresentados uma série de planos de urbanização ou pormenor que alteram a substância do que estava definido nos PDM ou outros planos de grau superior. Pode ser assim? Pode, mas desde que tal esteja suficiente e claramente justificado. E está? Na maior parte não. É o mundo virado ao contrário. Quando os PU ou PP deveriam surgir para dar consistência e pormenor às estratégias definidas nos PDM, aparecem agora a reboque dos promotores imobiliários para conseguirem mais índices de edificabilidade ou para corrigir erros de um passado recente, deturpando o que estava previsto.


Por este caminho, estas ilhas não tardarão a perder o seu bom aspecto apesar do carácter forte da sua Natureza, a sua inteligência perder-se-á na desorganização das suas infra-estruturas e as suas proporções poderão ficar em perigo com o crescimento caótico, em algumas partes horrorosamente disforme. A sua alegria, que depende em geral dos seu habitantes, manter-se-á sem grande dificuldade mas o sentido de humor tende a desaparecer nas mesmas piadas de sempre, contadas sempre pelas mesmas pessoas.



Luis Vilhena - Arquitecto
Sobre(voando) o território, in DN-Madeira 29-01-2009



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Simplesmente devo dizer que estou totalmente de acordo com este ponto de vista tendo em conta o "modus-operandi" habitual dos Autarcas desta terra.

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