quarta-feira, 26 de março de 2008

Venezuela: Língua portuguesa chega às escolas secundárias, mas falta de professores condiciona o ensino

O governo venezuelano incluiu a língua portuguesa como disciplina opcional no currículo oficial do próximo ano lectivo, mas a falta de professores poderá condicionar o ensino, revelaram à Agência Lusa fontes relacionadas com o processo.
"No programa que será aplicado a partir de Outubro, incorporou-se o idioma português dentro do sistema curricular, mas temos problemas com os professores", disse à Agência Lusa Sarina Cascone, responsável para a educação média venezuelana.
Segundo Sarina Cascone, o programa oficial, que há três anos incluía apenas o inglês, foi transformado para incluir outros "idiomas modernos", passando agora a incorporar a língua portuguesa.
Como parte dessa transformação, as autoridades decidiram avançar com um programa piloto em 14 escolas do Estado de Carabobo, uma importante localidade situada 250 quilómetros a oeste de Caracas.
"Mas temos problemas porque faltam professores para esse idioma", adiantou.
Entretanto, segundo o professor David Pinho, que está envolvido neste processo, as escolas venezuelanas já receberam o novo programa curricular oficial para o ensino secundário, onde se prevê que "a partir de Outubro, além do castelhano, os alunos estudem dois idiomas opcionais".
"O programa, que no passado incluía apenas o inglês e o francês, tem agora, pela primeira vez, o português", disse.
David Pinho é director do Colégio de Nossa Senhora de Fátima -uma das instituições educativas que oferece aulas de português para crianças e adultos em Caracas -, e um dos promotores do projecto de inclusão da língua portuguesa no sistema oficial venezuelana.
Para tal reuniu-se, em diversas oportunidades, com uma delegação da Assembleia Nacional (parlamento) e representantes do Ministério de Educação para debater aspectos relacionados com a implementação do ensino da língua de Camões.
Segundo aquele responsável muitos professores luso-descendentes "trabalharam" para que o português fosse ensinado nas escolas venezuelanos.
"Há muitos alunos que querem estudar português", adiantou David Pinho, o que já motivou uma visita a Caracas do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, António Braga, que se reuniu com representantes do Ministério de Educação.
"Agora temos um compromisso e temos o problema da formação de professores e do material didáctico", apontou.
No seu entender, se esses problemas persistirem, o português poderá ser uma "disciplina dispensável" nas 2.500 escolas privadas venezuelanas por falta de professores, o que "é uma pena, porque o ensino do nosso idioma pode ser abandonado".
David Pinho precisou que "cada liceu deve ter pelo menos um professor" e que haverá também muitos inconvenientes com o material de apoio, prevendo situações semelhantes "ao que acontece actualmente com disciplinas como física e química onde há muitas deficiências", em parte "porque em vez da docência as pessoas optam por outras profissões melhor remuneradas".
Frisou ainda ter conhecimento de que em 150 escolas contactadas mais de 80 por cento manifestaram querer avançar, na prática, com o ensino da língua portuguesa.
O novo program educativo prevê que os alunos do ensino secundária tenham três horas semanais de aulas de português, nos três primeiros anos e mais uma hora semanal nos últimos dois.
Segundo aquele responsável, "haverá uma maior procura de idioma português como matéria opcional, em relação ao francês".
David Pinho explicou ainda que actualmente estão a decorrer cursos intensivos para professores, "sobre a nova metodologia curricular, ao nível dos colégios e da nova forma das aulas, tanto nas primárias como nas secundária".
"A maioria dos textos vão ser elaborados pelo Governo, sobretudo os textos sociais, os que têm a ver com a parte de socialismo e uma matéria contempla assuntos como os fundos comunais, os bancos comunais, as comunas, e fronteiras", disse.
A partir de Outubro "o ensino secundário venezuelano passa a estar dividido em seis áreas: comunicação e cultura, inter-acção de componentes, sociais e cidadania, endógenos e Libertador (Simón Bolívar), ética e sociedade, e física, desporto e recreação".
Trata-se de um novo programa que "tem ocasionado muita polémica, porque a maioria dos professores não está de acordo com alguns aspectos", disse.

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