Hoje vou publicar neste blog o Editorial de hoje do DN-Lisboa, que espelha bem aquilo que muito de nós portugueses pensamos da "Prova Oral" de ontém a noite do Engenheiro José Socrates:
"O exame de ontem
O falso pretexto foi: "Dois anos de Governo." Ontem, o primeiro-ministro foi à RTP1 para fazer esse balanço. Pelo menos isso é que foi anunciado. Mas a RTP1 e os seus jornalistas, o convidado e, sobretudo, o público não estavam ontem virados para discutir o que fez, ou não, o Governo. Isso era assunto talvez para a segunda, e desinteressante, parte da entrevista.
Os primeiros 55 minutos, sim, chamavam todas as atenções: o exame oral ao aluno José Sócrates sobre a questão mais debatida nas últimas semanas. A questão: Sócrates como aluno. Quando os governantes vão às televisões apresentar balanços vão sorridentes, que é meio caminho andado para convencer. Todos sabem esse truque mínimo. Ainda quando o Tele- jornal mostrou o estúdio onde já estavam os entrevistadores e José Sócrates, pôde ver-se que este estava cinzento e tenso.
Não era um entrevistado que estava ali, era um homem público que era examinado sobre questões privadas: "Tenho bem presente aquilo a que tenho de responder" foram das suas primeiras palavras. E, ao primeiro pretexto que a entrevistadora lhe deu, respondeu: "Muito bem, chegou portanto o momento de me defender." Não foi difícil lembrar uma autodefinição um pouco ridícula que ele um dia se dera: "Animal feroz." Ouvindo-o a atacar as acusações, porém, ficou-se com a ideia de que ele sabe mesmo ser feroz. Deu explicações coerentes sobre o que o levou a escolher a Universidade Independente e as estranhezas sobre algumas datas são plausíveis com a rebaldaria que estamos a conhecer daquele estabelecimento de ensino. E disso ele não pode ser responsável.
Foi, sobretudo, convincente (que, lembre-se, não é uma virtude dos sinceros mas daqueles que convencem) quando falou das 55 cadeiras que fez para ter a sua licenciatura e quando, depois de ser ministro, aos 45 anos, decidiu estudar mais e tirar um MBA. Aí, o propagandista furou sob a pele do homem que se defendia e convidou os portugueses a estudar mais.
Estocada final do "homem feroz": não atribuiu a ninguém "a campanha" de que teria sido alvo. "Não quero deixar insinuações sobre ninguém", disse. Estando ele ali como vítima num episódio de poucas ou nenhumas provas mas processo de muitas dúvidas, ficou bem a José Sócrates não querer insinuar.
Mas, claro, é sempre possível dizer de um político que essa rectidão é só truque...Voltando ao exame de ontem: essa licenciatura não lhe pode ser recusada. Passou e publicamente. "
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