segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Relembrar o que uns escreveram a pouco mais dum ano

A partir de hoje vou semanalmente reeditar textos que pelo seu interesse e actualidade mereçam ser novamente lidos.

A um ano atrás, mais precisamente em Junho de 2007, o também bloguista Miguel Fonseca, publicava esta "Carta do Leitor" no DN-Madeira:


"Tudo está consumado. É agora público. Anunciado sem vices, como convém a um líder caudilhista, João Carlos Gouveia é o terceiro candidato que Vítor Freitas põe na liderança do PS. Cheira-me que não cumprirá o mandato. Tal como aconteceu a Américo Thomaz, o terceiro presidente que Salazar pôs em venerando Chefe de Estado. A tudo isto, assistem, impávidas e letargas, figuras gradas do partido. O leitor está a ver aqueles ciprestes que já lá estavam à entrada do cemitério quando enterrou o seu avô, a sua tia-avó, o amigo de sempre - hirtos, silenciosos, inamovíveis? Assim estarão esses figuras do imaginário socialista regional: não dirão uma palavra, não apoiarão Gouveia, não se lhe oporão, não lhe darão nenhuma espécie de cooperação nos momentos-chave, limitar-se-ão a esboçar um quase imperceptível sorriso de circunstância com o traço de Da Vinci, um gesto subtil de quem insinua que esteve sempre com ele, que repetirão à sua saída, insinuando, então, que nunca o haviam apoiado. Quanto ao "Grupo dos poderes fácticos", sabe-se que a sua política é agora a política da "terra queimada", do quanto pior melhor, mesmo reduzindo o PS, se necessário, a uma força radical, eventualmente abaixo ainda do valor residual de quinze por cento, para, depois, aparecerem como os salvadores que reconduzirão o partido a um imaginário tempo edénico. E tudo isto se passa no mundo esconso da manobra e da intriga, à revelia do universo de eleitores, esvaziando, na prática, o próximo Congresso, e tornando a eleição de João Carlos Gouveia e da nova direcção de Gouveia e Vítor num mero plebiscito, idêntico ao que eu caracterizei no já longínquo Outono de 2006 quanto à questão regional. Mas é evidente que não estou disposto, enquanto eleitor, a caucionar este "Golpe de Estado" no interior do Partido Socialista.


Esta negociação e acordo entre Vítor e João Carlos, pela sua espécie contra natura, só tem paralelo no Pacto Germano-Soviético e tem o selo do Diabo. Qual é o Fausto desta tragédia? Só sei que a paciência oriental - "honni soit qui mal y pense" - de um dos intervenientes poderá ter o mesmo efeito do "General Inverno" com que os Soviéticos desbarataram os nazis na II Grande Guerra - releve-se apenas a força da metáfora, que não o seu conteúdo político.


P.S. - Todo aquele que não denunciar ou se demarcar deste pacto é conivente com ele e pode vir, no futuro, a ser responsabilizado pelas suas consequências. E mais: se não aparecer nenhuma candidatura que trave este "Golpe", é legítimo o voto em branco e a abstenção contra o aparelhismo e as suas nefastas consequências."



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