terça-feira, 12 de junho de 2007

Venezuela: O outro lado da questão II

Tal como referi no anterior"Post" sobre esta matéria , não esta em causa o juizo de valor nem a opinião do Filipe Malheiro na abordagem que faz no seu artigo de opinião " Venezuela I", muito pelo contrario, pretendo enriquecer e mostrar um outro lado que por vezes escapa e que é extremamente importante, quando falamos da Venezuela e dos nossos emigrantes e lusodescendentes.

E é na continuidade dessa analise, que retomo o tema.


Quando avançamos no tema e abordamos a questão do olhar que os nossos emigrantes e os seus filhos tem em relação a Portugal e a Madeira, de facto verificamos que ela não tem sido muito positiva (hoje em dia muito melhor, depois de Portugal ter entrado na UE e por causa dos fenomenos desportivos como o Cristiano Ronaldo e Figo e claro também pelos feitos da selecção nacional de futebol, nos torneios internacionais, digo eu!). A imagem existente, nunca foi muito positiva, a Madeira em especial era vista como uma terra muito pobre, sem grandes oportunidades, perdida no atlântico, só tornava-se atractiva para férias e pouco mais.


De facto nas segundas gerações não se tem cultivado o gosto pelas tradições da Madeira (salvo raras excepções de pessoas ligadas aos clubes de emigrantes), nem pela língua portuguesa. E isto era assim devido ao facto de não ser encarada a questão do regresso as "origens", como uma fatalidade que mais tarde ou mais cedo teria de acontecer.


Os que regressam ou imigram (como é o caso dos lusodescendentes), não o fazem, pelo menos agora, como uma opção planejada ou como projecto de vida, o fazem por obrigação, por necessidade. Fogem da insegurança, que piora todos os dias e que cada vez mais se vira contra o emigrante (clima este ainda por cima é alimentado pelo regime), por este pertencer ao grupo social que em regra tem melhores condições de vida (a custa do seu trabalho) e que desenvolve actividades que facilmente é vulnerável aos tumultos sociais, que quase diariamente acontecem nesse País, entre outras razões ligadas aos mais recentes actos de perseguição política e claro por causa dos raptos, que tornaram-se muito frequentes.


O regresso é encarado como uma esperança no futuro, de quem espera que um dia a situação melhore e lhes seja mais favorável. Estão cá numa logica provisória e nunca definitiva.


O Choque civilizacional e cultural, de quem pouco se preparou, de quem pouco conhece a lingua, e a cultura, da terra que o vai receber é tremenda. Muitas vezes traumática.


Não podemos também deixar de associar a imagem negativa que ainda existe de quem em anos já longínquos passou pela Madeira. E que caracterizou uma geração de Madeirenses (ainda da primeira geração), que julgou poder comprar tudo e todos, por essa altura. O que ainda hoje deixa de pé atrás qualquer madeirense que nunca tenha emigrado. Continuam achar (alguns), que são todos iguais, com uma certa inveja e xenófobia pelo meio!...


Por outro lado a comunidade de ex-emigrantes e de lusodescendentes, não tem sabido aproveitar devidamente as potencialidades que esse laço comum de terem vivido e vindo dum mesmo País, lhes pode dar.


O pouco associativismo que existe na comunidade é demonstrativa dessa ideia de estarem "de passagem". Pretendo com isto dizer que não sentem a necessidade de criarem laços, que lhes dificulte ao nível emotivo o regresso a Venezuela.


Também existe o desanimo de quem cá está já alguns anos e vê que o associativismo existente é vázio de conteúdos, que é quase uma "passarelle" de vaidades e pouco mais. Para não ser injusto reconheço que tem alguns aspectos positivos, como a valorização da gastronomia e o apoio na chegada e acções de beneficência. Pouco ou muito!...Não sei...!


Só sei que de futuro, isto tem de mudar. Tem de existir mais envolvimento cívico, social e cultural. Espero!...





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