quinta-feira, 24 de julho de 2008

«Crise de fora?»

Dedico este texto aos entusiastas madeirenses do Governo de José Sócrates!!!...

«O discurso económico do Governo mudou radicalmente nas últimas semanas. Durante anos defendeu a tese que Portugal estava em recuperação e começaria em breve o crescimento acelerado. Agora assume que a crise e a culpa é externa.


A situação é mesmo séria. Quando chegou ao poder em 2005 o Governo previu um crescimento de 3% para 2009 no fim da legislatura. Agora o Banco de Portugal indica que a taxa será 1.3%, menos de metade e igual a 2006. Pior é a evolução do défice externo (corrente e capitais), o endividamento total do País. Em 2005 ele atingia o nível gravíssimo de 7,9% e o Governo prometia uma descida para 6% em 2009. Afinal deverá ser quase o dobro, uns impressionantes 11,1%. O País regrediu no crescimento e piorou no desequilíbrio. Afinal os anos anteriores, supostamente de crise, foram os bons. Agora começam os maus.


Não há dúvida de que é externa a causa principal da situação. A crise americana do crédito, o choque do petróleo e a instabilidade internacional afectam muito uma pequena economia aberta como a nossa. Mas se o quadro fosse favorável, o Governo ficaria orgulhoso e não diria que o mérito era estrangeiro. Sendo mau, é bom que assuma alguma da censura.


A responsabilidade do choque não é sua, mas cabe ao Governo a culpa de não ter usado os anos passados para corrigir os desequilíbrios. Alguma coisa fez, mas ainda se está longe da solução. O choque internacional toca a todos, mas alguns países enfrentam-no com grande fragilidade. Portugal está neste grupo. O Governo não é culpado da crise de fora. Mas tem de assumir a confusão dentro.»


João César das Neves - Destak, 08/07/24


______


Caros leitores retenham estes valores:


- Endividamento externo do País em 2005 ele atingia o nível gravíssimo de 7,9%;

- O Governo prometia uma descida do endividamento externo para 6% em 2009.

- A previsão de endividamento externo para 2008 é de 11,1%.


Fantástico não é?!!...


Agora digam-me, que diferencia este Governo PS na República do Governo Regional do PSD??!


Nada!!!...


Tudo farinha do Mesmo saco!!!...



6 comentários:

Tino disse...

Roberto,
Deves achar que eu sou um chato do cara... mas cá vai,
Défice externo espelha a diferença entre o que importamos e o que exportamos, ou a nossa balança comercial.
Tipicamente, Portugal tem nesta matéria um défice, uma vez que importamos mais do que exportamos.
Como deves imaginar os combustiveis, dos quais somos totalmente dependentes do exterior têm um peso elevadissimo, agravado agora com a subida do preço dos combustiveis.

O endividamento total do País é outra coisa, e tem a ver com a quantidade que o estado, as empresas e as famílias estão a dever. Este valor está neste momento acima dos 115%, que como deves é bom de ver, é um valor elevado. No entanto esse valor nada tem a ver com o serviço da dívida, ou seja, portugal não vai ter que pagar este valor instantaneamente.
Dando apenas um exemplo, uma familia que recorre ao crédito para pagar uma casa fica com um endividamento muito superior a 100% do seu rendimento anual, no entanto têm um serviço da dívida que geralmente fica abaixo dos 70% da sua capacidade.

Roberto Rodrigues disse...

Caro Tino,

Ao contrario do que tu possas pensar, nunca achei que fosses um chato do cara...!

Mas acho que vocês no Farpas e não só, acham coisas bem piores de mim!!!...

Sempre apreciei as tuas opiniões e tirando aquela charada estupida de a dias (que tu sabes bem do que falo), tenho apreciado os teus pontos de vista e comentários.

Para mim as divergências de opinião não são nem chatisses, nem motivo para insultos.

Posso e reconheço ser por vezes muito duro e contundente nas criticas e opiniões que faço (é uma questão de estilos), mas tento nunca ofender pessoalmente ninguém, coisa que por vezes alguns não o fazem. Mas quando o fazem (pelo menos comigo é assim)levam com a mesma moeda!...

Respeito aqueles que indiferentemente da "pimenta" que usam, fazem as apreciações que entenderem, sempre e quando não resvalem para o insulto e a insinuação desonesta.

Por isso disponha sempre!

Relativamente ao teu comentário, devo dizer-te que julgo haver alguma confusão. É que o texto do João Cesar das Neves, quer o meu comentário referem-se a evolução do défice externo (corrente e capitais), portanto ao o endividamento total do País e não a balança comercial. mas mesmo assim a tua constatação nesta matéria é também pertinente e preocupante.

De qualquer forma não está em causa a origem da crise que vivemos, mas sim o que é que o Estado fez ao longo destes últimos anos para minorar uma crise como esta, que afinal demonstra que o Estado não estava preparado e está aquem do anunciado pela propaganda socialista, para responder a estas situações.

Sobre o endividamento total é importante aquilo que referis-te, os tais 115%, que como referes e bem, é a soma das dividas do Estado, das empresas e das Familias. E que se comparares com os tais 70% (acho que vulgarmente chamada de taxa de esforço), que a banca hoje aceita como limite para as familias se endividarem, verificas que o Estado esta sem manobra e debilitado para fazer face a verdadeira crise que está para chegar, tendo em conta o que especialistas em assuntos economicos tem vindo a referir nestes dias.

Não sou nenhum especialista, mas é por demais evidente que a crise nos vai atingir com maior força, porque não conseguimos superar os desequilibrios estruturais que ainda existem. Assim sendo o impacto da crise, nas familias e nas empresas sobrendividadas terão grande impacto e por consequência teremos mais pobreza e mais desemprego, no País.

E o pior é que na Madeira a situação será ainda mais grave!...

Cumprimentos

RR

Tino disse...

Roberto,
O Artigo de JCN fala em duas coisas: Défice externo que é a balança comercial; e fala do endividamento total.
O défice externo passou dos tais 6% para 11%.
E neste aspecto a construção de barragens, a aposta nas energias renováveis e os acordos com Angola, Venezuela e Libia contribuiram para a sua diminuição.

Quanto ao endividamento, que está acima dos 115% do PIB, o serviço da divida está muito abaixo disso, ou seja o orçamento de estado não é todo aplicada no pagamento da dívida, apenas uma parte do oe é utilizado no serviço da dívida, e se nas familias esse valor é tipicamente de 70%, no estado é muito inferior.

Na Madeira, só com as vias litoral e expresso e futuramente com a viamadeira, o serviço da dívida será superior a 20%. Por outras palavras, 20% do Orçamento regional estará comprometido durante 30 anos para pagar apenas estas 3 vias.

Roberto Rodrigues disse...

Tino,

Deixa-me só reproduzir aqui o que o Banco de Portugal disse no dia 16deste mês sobre este assunto:

"...o facto de o país estar tão endividado face ao estrangeiro e as famílias e empresas portuguesas face aos bancos que faz com que a economia continue a ser tão afectada pela difícil conjuntura externa e a crescer menos que os seus parceiros europeus..."

"...Segundo o Banco de Portugal, o défice externo português - medido através das balanças corrente e de capital - deverá, neste ano e no próximo, superar os 10 por cento do PIB, algo que nunca aconteceu, pelo menos, desde 1995. Nem no final dos anos 90, quando o entusiasmo dos portugueses pelo crédito fez disparar as importações, se atingiram valores tão altos..."

"...O aumento da factura energética e o crescimento dos juros que os bancos portugueses têm de pagar ao estrangeiro são as principais razões para este novo recorde. Em particular, o défice da balança de rendimentos vai chegar, em 2009, aos 6,5 por cento do PIB, o valor mais alto de sempre e um sinal claro de que chegou a altura de os portugueses pagarem pelo crédito que, consecutivamente, têm pedido ao estrangeiro...." (E sobre isto o Governo Socialista ainda não teve a coragem de fazer alguma coisa. Nada de nada!!!...)

"...Assim, não é de espantar que as famílias e as empresas, pressionadas pelo elevado nível de endividamento e, além disso, a terem de enfrentar a subida das taxas de juro, a alta dos preços dos alimentos e energia e as fracas expectativas para o futuro, se vejam forçadas a travar no consumo e no investimento.

O Banco de Portugal aponta agora para um abrandamento do consumo privado de 1,5 por cento em 2007 para 1,3 e 0,7 em 2008 e 2009. Este último valor será o segundo mais baixo dos últimos dez anos, superando apenas o registado em 2003...."

E repara nesta parte:

"...O investimento, a grande aposta do Governo para a retoma, volta a andar para trás, passando de um crescimento de 3,2 por cento no passado para apenas um por cento este ano.

As exportações mais não fazem do que acompanhar a quebra das economias que são clientes de Portugal. Este indicador irá crescer 4,4 por cento este ano, depois dos 7,7 por cento de 2007
"...

Tremendo não é??!...

Mas, há mais:

"...Vítor Constâncio foi muito prudente na altura de apontar soluções de curto prazo. Pelo contrário, fez questão de frisar que "não há margem para políticas orçamentais de estímulo económico que impliquem aumento da despesa ou redução de impostos", lembrando que "os números de crescimento previstos pressionam as metas do défice"..."

Fonte:(http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1335576&idCanal=57).

Portanto Tino, não há Venezuelas, Libias, Angolas que resolvam o problema estrutural que ainda este Governo não resolveu e que afinal mais uma vez demonstra que Sócrates e seu Governo mentiram aos Portugueses, porque a sua obsessão pelas finanças públicas, defíces e políticas de aperto ao cinto afinal de nada serviram, esta tudo igual!...

RR

Tino disse...

Roberto,
Eu não disse que a situação não era grave, mas se tivéssemos de somar aos problemas do défice externo e endividamento total os problemas do défice orçamental e do excessivo endividamento público, numa altura de arrefecimento da economia mundial e aumento do preço das matérias primas, acredita que estaríamos bem pior.

Basta ver as noticias que nos chegam de Espanha, Inglaterra, Alemanha, França, EUA, Japão, Etc.
Todas elas estão com crescimentos muito modestos e inflações muito elevadas.

Roberto Rodrigues disse...

Tino,

Estou de acordo parcialmente contigo, porque ao contrario de Espanha, Inglaterra, Alemanha, França, EUA, Japão e outros, nos não estamos envolvidos directamente com a crise financeira decorrente do sub-prime e também não temos a capacidade económica que estes países tem para ultrapassar esta crise.

Mas, é lamentável que depois de tanto esforço por parte de todos nós contribuinte, tenhamos de continuar a apertar ainda mais o cinto, porque o Governo não fez o suficiente para garantir que o País passaria por uma crise destas (que é indirecta), de forma que os danos não fossem tão graves. Em soma tanto sacrificio para tão pouco ou quase nada!...

Essa é que é a questão!!!...

RR